Leitura
Bíblica: I Co 2.6-16
O texto que você vai ler foi trazido como sermão no Pré-Congresso da UMADA (União das Mocidades da Assembléia de Deus em Airituba) na congregação de Calçados no dia 16 de Fevereiro de 2013. Embora o tema escolhido fosse Gênesis 41.38, a leitura base está em 1 Coríntios 2.6-16
O tema escolhido para este Pré-Congresso está em Gênesis 41.38: “Acharíamos um varão como este, em quem haja o espírito de Deus [ou dos deuses]?” Uma pequena história do Antigo Testamento que provavelmente todas as crianças desta sala sabem contar melhor do que eu. É o momento em que a sorte do jovem José, filho de Jacó, sofre uma completa mudança. Após ser rejeitado pelos seus 11 irmãos, ser levado como escravo ao Egito, ser acusado e condenado à prisão por um crime do qual era inocente; ele é chamado à corte para interpretar um sonho do Faraó bem estranho sobre vacas e espigas de milho. Nenhum dos magos e sacerdotes a serviço do governante havia sido capaz de discernir o significado, no entanto José consegue desvendar o mistério. O surpreso Faraó reune a pouca teologia distorcida que possui e faz a declaração já mencionada. A arte de interpretar sonhos e com isso predizer o futuro era para ele uma ação diretamente divina e em muitos casos essa era a própria justificativa para a adoração dos deuses. Servi-los era uma forma de atrair bençãos, favorecimento e segurança quanto ao futuro pessoal e nacional. Aqueles que eram capazes de anunciar as revelações divinas deviam ser exaltados e honrados tanto quanto os próprios deuses, já que compartilhavam dos seus pensamentos. E foi dessa maneira que José foi elevado ao posto de governador do Egito abaixo apenas do Faraó.
Esta história sempre nos chama bastante
atenção, porque nos mostra como Deus, que é soberano e onisciente, revela os
seus planos e direciona os passos a serem dados. Na vida do Faraó e de todos os
egípcios havia um plano que agora fora revelado. Na vida de José também havia
um plano divino específico que o próprio Deus já o revelara anos antes através
de sonhos. E através de sua revelação Deus também providenciava orientação
sobre como reagir, como se preparar e o que esperar. Obviamente, o Faraó de
certa forma afirma que para alguém ter a direção de Deus e saber interpretar o
que está por vir, essa pessoa deve ser espiritual.
Não há dúvidas de que José era um jovem sobre
quem o Espírito de Deus repousava. Não há dúvidas também que a sua capacidade
de interpretar o sonho e saber o que iria acontecer nos próximos 14 anos lhe
foi dada diretamente por Deus – visto que ele mesmo assim o reconhece em Gn
41.16. No entanto, é possível que o Faraó não tivesse consciencia do que estava
dizendo. Ele provavelmente tirou as conclusões corretas a partir de uma análise
equivocada, mudando inclusive o nome de José para Zafenate Paneía [o revelador de segredos]. Pois, afinal,
o que torna ou faz de alguém uma pessoa espiritual? Ter visões? Interpretar
sonhos? Uma pessoa que ora mais do que outra é necessariamente mais espiritual?
Quem jejua mais? Quem possui mais dons?
“Para muitos cristãos”, principalmente para nós
jovens, “direção é um problema crônico. Não que a gente tenha dúvidas de que
direção divina seja um fato, mas justamente porque temos certeza de que é” –
afirma J. I. Packer em seu famoso livro Conhecendo
Deus (1973). Nós sabemos que Deus pode e prometeu nos guiar. Histórias como
a de José nos mostram que Ele já o fez na vida de outros crentes. Sempre
conhecemos alguém que tem alguma história de como Deus o orientou de maneira
clara e milagrosa, operando assim em sua vida. Nosso medo então não é que falte
orientação da parte de Deus, mas que nós não sejamos espirituais o suficiente
pra recebê-la ou percebê-la e discernir se de fato vem de Deus. Por este motivo,
escolhi como leitura para esta noite uma segunda passagem bastante conhecida: I
Coríntios 2.6-16.
Doutrina
Corinto estava basicamente no centro da cultura
grega, onde filósofos e poetas valorizavam as conquistas humanas. Os atletas,
esculpindo os seus corpos à perfeição, colhiam medalhas e glória. Os pensadores
e oradores eram admirados por suas mentes elevadas. Os gregos amavam a
sabedoria e sentiam sede de entender o universo. A uma igreja vivendo numa
realidade não muito diferente da nossa época, o apóstolo Paulo escreve:
“Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos;
não a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo que se aniquilam”(v.
6 ARC) A palavra usada por ele que foi traduzida por “perfeitos” no original
grego é teleios e descreve aqueles
que manifestam um caráter cristão maduro. Por isso algumas versões bíblicas
trazem o verso como “falamos de sabedoria entre os que já têm maturidade” (NVI)
Teleios também é a raiz da palavra
telescópio, que nos auxilia a enxergar à distância, o que faz muito sentido quando
percebemos que uma pessoa madura é aquela que enxerga adiante. Uma pessoa
madura está sempre à frente; vivendo o hoje com a mente no amanhã através das
experiencias de ontem. Ela sabe o que está vindo e se prepara mesmo que ainda
esteja distante. Paulo diz que possui uma mensagem de sabedoria para os
cristãos que são maduros, mas uma sabedoria diferente daquela que os gregos
estavam acostumados. Diferente daquilo que o mundo chamava de sabedoria. Porque
a sabedoria do mundo por não ter uma finalidade em si mesma, era
auto-destrutiva. Os próprios mestres da sabedoria se aniquilavam.
“Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em
mistério”(v.7) Paulo afirma que a sabedoria da mensagem que ele trazia vinha de
Deus, na verdade era a própria sabedoria de Deus. Mas que era secreta,
misteriosa e estava escondida; “a qual Deus ordenou antes dos séculos para
nossa glória” (v.7) A sabedoria de Deus já existia e Ele mesmo já possuía
planos traçados para nós muito antes do mundo vir a ser. Deus, que não é como
nós movido por cinrcunstâncias, jamais foi pego de surpresa. Antes mesmo das
crises e problemas, mais especificamente antes do pecado se tornar parte de
nossa natureza, Ele já possuia ordenanças e direção para cada um de nós através
de sua infinita sabedoria. O que para mim é um pensamento consolador, porque
significa que ao decidir salvar a minha vida Deus já sabia muito bem os erros
que eu cometeria. Ele nunca foi iludido quanto ao que estava fazendo e por isso
a Sua sabedoria só engrandece e glorifica o Seu amor. No entanto, de maneira
surpreendente, Paulo diz que isso foi “para nossa glória”. Ou seja, Deus possui
planos escondidos e fundamentados em sua sabedoria desde a eternidade passada
cuja finalidade é nos trazer glória. Bom, na vida de José isso foi bem evidente
já que ele se tornou governador do Egito. Na vida de diversos cristãos também
vemos histórias bem-sucedidas. Homens e mulheres de Deus que ganharam destaque
público ou prosperidade financeira. De fato, isso se encaixaria de descrição de
“glória” que Paulo traz nessa passagem. Mas seria muito superficial interpretarmos
dessa maneira, visto que muito mais abundantes são os exemplos de homens e
mulheres tementes a Deus que morreram no anonimato ou em condições de
sofrimento e dor. Sendo assim, que glória é essa de que Paulo fala? Não é a
primeira vez que ele traz o tema “glorificação dos crentes” e nós devemos
entender que para Paulo isso se refere a um processo que já está ocorrendo, mas
que ao mesmo tempo ainda vai acontecer. O plano/sabedoria oculta de Deus tem
por objetivo trazer uma transformação completa de nossas vidas a começar aqui através da regeneração e a
culminar no futuro com a ressurreição de nossos corpos incorruptíveis. O “para
a nossa glória” na verdade remete a carregarmos a glória do próprio Deus e
refletirmos a sua luz. Sim, e nenhum dos líderes deste mundo sendo capaz de
entender a sabedoria de Deus acabaram por crucificar aquele que é “o Senhor da
glória” (v.8)
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho
não viu, e o ouvido não ouviu, e a não subiram ao coração do homem, são as que
Deus preparou para os que o amam” (v.9) Paulo está provavelmente citando Isaías
64.4, exceto que faz uma pequena modificação. Ao invés de dizer “aos que
esperam em Deus” ele diz “aos que amam a Deus”. Deixando subentendido que os
que esperam em Deus são na verdade aqueles que O amam. Este é um daqueles
versículos que todos gostam de recitar porque enfatiza o quanto somos
ignorantes das bençãos que Deus tem preparado para nós. Alguns pastores até
gostam de ler este verso em funerais reinforçando que não conseguimos nem
imaginar como será no céu. Mas a verdade é que ao lermos o contexto, não há indicação
de que Paulo esteja exclusivamente falando do céu. Não há nada que diga que se
trata do futuro, mas simplesmente que Deus possuía um plano oculto preparado
para a glória daqueles que nEle esperam e, portanto, O amam. E este plano ou
esta sabedoria de Deus estava acima de qualquer análise ou especulação humana. Este
versículo de fato deixa claro o contraste entre a sabedoria divina e a
sabedoria humana. Enquanto para qualquer cientista contemporâneo o conhecimento
só vem através do uso dos sentidos e da experimentação (ver, ouvir, entender
e/ou racionalizar), nenhum destes é suficiente para explorar o que Deus possui
em oculto. Galileu provavelmente ficaria chateado com essa falha, ou melhor,
incapacidade do método científico.
O principal motivo da má interpretação do verso
9 é que esquecemos de ler o verso 10: “mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” Embora
fosse impossível aos nossos sentidos (olhos, ouvidos e mente) advinhar ou
sequer compreender o plano de Deus, Ele mesmo se encarregou de revelá-lo. A
palavra revelar que também vem do grego significa retirar o véu que esconde
algo. Quando desejamos conhecer alguém ou fazer amizade, não basta nos
aproximarmos desta pessoa, mas ela mesma deve se abrir e se deixar conhecer. Se
a todos os homens era impossível conhecer os planos e a sabedoria que desde a
eternidade estavam em Deus, era necessário que ele mesmo revelasse os seus
pensamentos. A iniciativa deveria e só poderia partir dEle. Deus não permaneceu
recluso ou obscuro. O cristianismo não é uma religião ocultista baseada em mistérios e planos desconhecidos. Sim, há
muito sobre Deus que desconhecemos. Sendo ele infinito é claro que é impossível
que o conheçamos por inteiro. Mas o que Paulo afirma é que através do Espírito
nós temos acesso a todos os mistérios da sebdoria e dos planos de Deus. Somente
através do Espírito.
“Porque o Espírito penetra todas as coisas,
ainda as profundezas de Deus.” Outras traduções usam o verbo buscar ou
examinar. Hoje em dia qualquer pessoa que tenha acesso a um computador sabe
usar uma ferramenta de busca. Basta digitar 2 ou 3 palavras e você tem acesso a
praticamente qualquer informação que desejar. O Espírito de Deus desempenha
este papel de buscar e trazer o conhecimento de Deus. Em junho do ano passado
eu estava fazendo uma viagem para São Francisco na California e eu não conhecia
muito bem as leis americanas de embarque aéreo. Assim que passei na primeira
fiscalização fui parado pelos seguranças e eles me pediram permissão para abrir
a minha mochila. Obviamente eu autorizei, embora já me sentisse constrangido porque
de certa forma eles estariam penetrando a minha vida pessoal. Na minha mochila
eu carregava meus documentos e meus objetos pessoais e fui obrigado a vê-los
retirando item por item e expor a minha vida. O problema todo era um vidro de
perfume, porque eles não permitiam qualquer forma de líquido acima de 100 mL. E
o que Paulo está dizendo é que o Espírito de Deus é o único que tem a Sua
autorização de penetrar nas Suas próprias profundezas e revelar os Seus
desígnios, Sua identidade.
“Porque, qual dos homens sabe as coisas do
homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as
coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” (v.11) A Nova Versão Internacional
traz “pensamentos” ao invés de “coisas”. De fato, olhe para o irmão ou irmã que
se encontra ao seu lado. Você consegue me dizer o que ele(a) está pensando
neste exato segundo? Eu duvido muito. Quem sabe os nossos pensamentos senão o
nosso próprio espírito? E o mesmo é válido para Deus. Se não conseguimos ler os
pensamentos uns dos outros quanto mais os de Deus! Somente o Espírito de Deus
conhece os pensamentos de Deus. “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas
o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer [entender, NVI] o
que nos é dado gratuitamente por Deus.” (v. 12) É provavel que Paulo tivesse em mente todos os
cristãos, que possuem o Espírito de Deus, quando disse isso. No entanto, em uma
primeira análise ele se referia a si mesmo e aos demais apóstolos. Ou seja,
recapitulando o processo, vemos que os pensamentos mais profundos de Deus foram
revelados e feitos conhecidos gratuitamente (i.e. por sua graça) aos seus
apóstolos que receberam e entenderam os mistérios divinos através do Espírito
de Deus.
No entanto, o processo não termina aí. Observe
o verso 13: “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas
com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as
espirituais” Os apóstolos não só receberam as revelações dos pensamentos de
Deus, mas também através do Seu Espírito foram habilitados a ensinar, a falar e
escrever! O final deste versículo 13 é de difícil tradução, mas a NVI traz como
“interpretando verdades espirituais para os são espirituais” Aos apóstolos foi
dada a capacidade de explicar os pensamentos de Deus àqueles que nasceram de
novo e sendo seus filhos, são espirituais. A isso damos o nome de inspiração. O
próprio respirar de Deus foi dado ao apóstolos para que trouxessem vida aos
demais filhos de Deus. Deixados na forma escrita, temos acesso aos pensamentos
de Deus.
“Ora o homem natural não compreende as coisas
do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente” (v.14) Embora todo o processo de comunicação
entre Deus e os homens esteja até então inabalado, Paulo descreve uma
interrupção. Ora, se o Espírito é aquele que examina e busca os pensamentos de
Deus, aquele que revela aos apóstolos e publica os seus resultados (como todo
bom pesquisador científico) através de homens; nada mais óbvio que Ele mesmo
seja o encarregado de aplicar as verdades de Deus aos homens. E neste ponto
ocorre uma divisão. Paulo menciona que todos os homens estão divididos em duas
categorias: naturais e espirituais. “O homem natural não compreende”, ou em uma
melhor tradução “não aceita” aquilo que o Espírito lhe ensina. Muitos homens
são formados em teologia, ou literatura e chegam a se tornar doutores na
Palavra de Deus. Um dos maiores comentaristas da Carta aos Filipenses vivo
atualmente nunca se converteu ao cristianismo. Sim, porque de certa forma para
se ter uma melhor intepretação da mensagem bíblica talvez seja necessário
conhecer a história e a cultura dos tempos bíblicos, ou as línguas originais,
ou a geografia local etc. Enfim, conhecimentos meramente seculares. Mas embora
compreendam e conheçam bem as Escrituras, não são capazes de aceitá-las. Ou
seja, em um outro sentido eles são completamente ignorantes a respeito dos
mistérios de Deus. Pelo fato de não serem nascidos do Espírito de Deus, as
verdades reveladas ficam perdidas como simples loucura e coisas que não fazem
sentido algum.
“Mas o que é espiritual discerne [julga, NVI]
bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” (v.15) Bom, isso significa que agora
que você é crente você sabe todas as coisas desde química quântica até
genética? Eu acho que não. Significa que temos o poder de julgar todas as
pessoas do mundo? Também acho que não. Este verso significa que através do
Espírito temos acesso aos pensamentos de Deus revelados em sua palavra aos
apóstolos e Ele nos dá o poder necessário para aplicar este conhecimento a
todas as áreas de nossas vidas. Que todos os planos de Deus para nós podem e
devem ser conhecidos através do seu Espírito porque Ele os tem revelado de
forma que podemos e devemos dirigir nossas vidas de acordo com esta revelação.
Significa que por causa do Espírito de Deus todos nós nos tornamos um enigma
porque começamos a entender a enxergar tudo ao nosso redor de acordo com os
pensamentos de Deus e ao mesmo tempo deixamos de ser compreendidos por todos os
que não compartilham da vida espiritual. Significa que a pessoa verdadeiramente
espiritual não é aquela que recebe mais visões, sonhos e revelações acerca do
futuro (como o Faraó pensou). Mas o nosso grau de espiritualidade é dado pela
maneira como pensamos e agimos frente a todos os mistérios e pensamentos de
Deus já revelados! Antes eram completamente ocultos, “porque, quem conheceu a
mente do Senhor, para que possa instruí-lo?” (v.16); mas de sua própria vontade
e partindo do seu próprio amor consciente desde a fundação do mundo, Deus quis
fazer conhecer a Sua mente a cada um de nós para nossa glória! Somos capazes de
discernir todas as coisas, tanto naturais quanto espirituais. Não perdemos o
poder de raciocinar e adquirir conhecimento humano, antes o ampliamos de
maneira sobrenatural. E embora possamos descer e aprender o que é natural, o
inverso nunca é verdade. Porque quem pode penetrar tão fundo na mente de Deus a
ponto de poder instruir àqueles que têm o Espírito de Deus? É como estar numa
posição bem mais alta ao subirmos a montanha do conhecimento. Olhamos para
baixo e podemos contemplar sob uma nova perpectiva tudo aquilo que o homem
natural compreende, mas eles mesmos jamais poderiam alcançar a mesma visão que
nós. Nós sabemos o que é verdade e o que não é verdade sobre Deus. “Nós temos a
mente de Cristo.” (v.16) Esta afirmação tão poderosa e profunda feita pelo
apóstolo Paulo é também um lindo jogo de idéias. Ao dizer que nós temos a mente
de Cristo ele estava se referindo em um primeiro sentido às Escrituras que são
os próprios pensamentos de Deus. Todos nós nessa sala possuimos uma bíblia,
certo? Em um segundo sentido estava
afirmando que nós somos os únicos que temos o Espírito de Deus habitando em nós
para fazer com que os pensamentos de Deus revelados aos homens sejam os nossos
mesmos pensamentos. Como diz o velho ditado, estamos com a faca e o queijo na
mão! Deus tem planos para nós. Ele nos revelou seus planos. Precisamos aprender
a tomar a direção que Deus gratuitamente nos dá.
Aplicação
A esta altura você já deve estar se
perguntando: “nossa, Pedro, mas porque você precisou dar esta volta toda para
falar sobre os planos e a orientação de Deus? Não bastava ler os dois últimos
versículos dizendo que quem é espiritual tem a mente de Cristo e discerne todas
as coisas?” A resposta é: claro que não! Porque quase todos os crentes leem
somente os dois últimos versículos e pensam que se trata de uma fórmula mágica.
Aceitamos a Jesus num dia e no outro temos super-poderes pois somos
super-espirituais e temos direção de Deus pra tudo em nossas vidas (em alguns
casos, na vida alheia também!). Quando na verdade, o apóstolo deixa bem
evidente que se trata de alinharmos nossos pensamentos com os pensamentos de
Deus através da sua Palavra! Paulo desafia os cristãos imaturos em Corinto a
crescerem enquanto aplicavam o discernimento espiritual: examinando e
investigando os valores e as implicações espirituais de tudo que acontecia em
suas vidas. O presente gratuitamente dado por Deus era a mente de Cristo para
esta tarefa tão impossível a todos nós. E na maioria dos casos ter a mente de
Cristo significa não ser compreendido pelos outros, mas mesmo assim seguir o
caminho que Deus nos tem mostrado pela sua Palavra. Aprendendo a enxergar de
longe o que ainda não chegou, assim como José! Maturidade.
É muito comum que mesmo os cristãos mais
sinceros procurando direção de Deus o façam de modo errado. Simplesmente porque
imaginamos o direcionar de Deus como uma espécie de intuição ou propulsão
espiritual sem qualquer ligação com sua Palavra escrita. Nós ouvimos a palavra
direção e logo pensamos nos problemas que demandam decisão de nossa parte. Por
exemplo, será que eu devo me casar ou não? Me casar com esta ou com aquela
pessoa? Já está na hora de ter outro filho? Devo sair da minha igreja? Devo
entrar pra esta ou aquela igreja? Será que o plano de Deus é que eu more nesta
cidade até morrer? Devo arrumar um emprego ou continuar estudando? Que
profissão eu escolho?? Eu preciso que alguém me diga o que fazer!
Os dois problemas envolvidos nestes tipos de
direcionamento são: eles não podem ser resolvidos com uma aplicação direta de
um ensinamento bíblico (ou seja, nada de abrir a bíblia ao acaso e ver onde
cai! Não há uma passagem específica para os nossos problemas específicos); o
fator inclinação dada por Deus se torna decisivo. A idéia de escutar a voz do
Espírito dentro de você e seguir esta direção se torna mais atraente. Em um
livro chamado Fanatismo Religioso escrito por uma senhora pentecostal americana
e publicado em 1928 conta da história de uma mulher que às vezes saía de casa
calçando apenas um sapato, outras passava o dia sem se levantar da cama. Ela
sempre perguntava ao Senhor se Ele queria que ela fizesse algo, e só faria se
ouvisse “a voz” dentro dela dizendo que sim. É claro que isto soa ridículo aos
nossos ouvidos, mas quando menos percebemos estamos fazendo o mesmo com as
decisões das nossas vidas. Sendo tão imaturos quanto esta mulher. Às vezes
oramos e pedimos uma direção que na verdade Deus já nos tem dado através de sua
Palavra, mas nós não conseguimos ver. Porque já decidimos que não vamos
encontrar nada lá. Não espere por exemplo que seja direção de Deus você se
casar com um descrente ou se juntar com quem quer que seja sem o compromisso do
casamento. Mesmo que não haja uma resposta precisa para seu problema de
direção, não significa que Deus não tenha limites e orientações gerais que
possam restringir as suas opções de escolha!
Quais são os laços que nos embaraçam? Primeiro,
nós não queremos pensar. Deus nos fez seres pensantes e Ele guia a nossa mente
primordialmente quando decidimos pensar diante da sua presença! Segundo, nós não queremos pensar adiante.
Usar o telescópio da maturidade! Pesar as consequências de cada alternativa
para as nossas ações a longo prazo. Terceiro, nós não queremos pedir conselhos.
A bíblia é bem clara quanto isso: “O caminho do tolo sempre lhe parece correto,
mas o homem sábio escuta conselhos”! (Pv. 12.15) Sempre há pessoas que conhecem
a bíblia, a natureza humana e os nossos próprios dons e limitações melhores do
que nós! Nada além de coisas boas virão a nós se cuidadosamente considerarmos o
que eles têm a dizer. Quarto, não queremos suspeitar de nós mesmos. Sentimentos
de exaltação, escapismo, auto-indulgência e engrandecimento devem ser
detectados e removidos, não confundidos como direção espiritual. É muito comum,
por exemplo, ao estarmos apaixonados termos a consciencia silenciada e o
pensamento crítico inibido pela alegria e o sentimento de bem-estar. Quantas
vezes já ouvimos pessoas dizerem “eu senti a direção de Deus para me casar com
fulano(a)”? Sempre devemos questionar o porquê dos nossos sentimentos! Quinto,
não conseguimos descontar nosso magnestismo pessoal. “Esquecemos” do poder que
temos de influenciar os outros a concordarem com nossas ações. Pedimos ajuda
a(o) melhor amiga(o) sem lembrar que a nossa auto-dramatização pode dominar as
suas mentes em nosso favor. Só queremos uma desculpa e um apoio moral para a
decisão que já tomamos. Não estamos buscando direcionamento de verdade! Ou até
mesmo quando estamos conscientes dessa nossa capacidade e tentamos evitá-la,
não conseguimos impedir que os outros continuem nos tratando como anjos ou
profetas de Deus. Cegos guiando outros cegos. “Examinai tudo. Retende o que é
bom.” (1 Ts 5.21) Sexto e último embaraço, não queremos esperar em Deus. “Deus
nunca ilumina mais o futuro do que nós precisamos para agir no presente” (J. I.
Packer, 1973) Ele nos direciona um passo de cada vez. “Corramos com paciência” (Hb
12.1). Na dúvida continue esperando em Deus. Quando uma ação for necessária,
uma luz virá!
A resposta de Deus nem sempre é fácil. Estar na
direção certa não significa que o caminho será livre de problemas. Na verdade a
presença de problemas e complicações no caminho da decisão já tomada é um sinal
para paramos e refletirmos. Pode ser que estamos no caminho errado, mas pode
ser que não! Muitas são as aflições do justos. Nas duas vezes que os discípulos
enfrentaram uma tempestade no mar da Galiléia foi porque o próprio Jesus os
tinha ordenado irem para lá. Paulo em outra passagem diz que foi direcionado
pelo Espírito a ir pra Jerusalém sabendo que prisões e aflições o aguardavam! Já
dissemos que os homens naturais não entenderão nossas ações e provavelmente
vamos sofrer o abandono e a rejeição. Tal como o próprio Cristo, Senhor da
Glória! Você tem a mente de Cristo! Aprenda a usar as armas que Deus lhe tem
dado tanto nas suas mãos (bíblia) quanto dentro de si mesmo.
Conclusão
É claro que em algum momento você vai tomar a
direção errada. Todos nós fazemos isto. E nós podemos simplesmente sentar e
chorar pelas más decisões vendo nossas vidas se afundarem. Mas não é isto que
Deus deseja pra nós. Graças a Deus, nem todo erro é irreversível. Se houver
conserto, você já sabe o que tem de fazer. Dê a volta e comece tudo de novo na
direção certa. O Senhor é o Deus que restaura os nossos caminhos! Mas se por um
outro lado a direção tomada é irreversível e o erro cometido não pode ser
revogado, também tenha certeza de que o Senhor é um Deus que pega os nossos
erros e tolices e consegue encaixá-los nos seus planos para nós, trazendo bem a
partir do mal. “Todas as coisas cooperam pra o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados pelo seu decreto” (Rm 8.28) Não é com a sua segurança
que você deve se preocupar, pois disso nós já temos a garantia. Nossa
preocupação deve ser trazer glória ao nome de Deus através das nossas escolhas.
Deus não nos deixará arruinar nossas próprias almas. Mas Ele quer achar um
varão como José, em quem haja o Seu Espírito e a mente de Cristo.
Oremos como Davi no Salmo 136:
“Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes
quando me sento e me levanto: de longe percebes os meus pensamentos. Cercas o meu
andar e o meu deitar. Conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra
na minha língua, eis que, ó Senhor, tu já a conheces inteiramente! Para onde
irei eu do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí
estás. Se tomar as asas da alva e se habitar no fundo do mar, até ali a tua mão
me guiará e a tua destra me susterá! Sonda-me, ó Deus, conhece o meu coração.
Prova-me os pensamentos. Conhece as minhas inquietações. Vê se há em mim algum
caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”
Em nome do Nosso Eterno Senhor e Salvador Jesus
Cristo,
Amém.
Sei que foi de relevante importância para a juventude que teve o privilégio de ter uma pregação dessa natureza. Que Deus continue lhe abençoando...
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