"A chave para o crescimento é uma educação cristã em profundidade que requer um sério nível de sacrifício." (R.C. Sproul)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A Mente de Cristo - Sendo Direcionados por Deus

Leitura Bíblica: I Co 2.6-16

O texto que você vai ler foi trazido como sermão no Pré-Congresso da UMADA (União das Mocidades da Assembléia de Deus em Airituba) na congregação de Calçados no dia 16 de Fevereiro de 2013. Embora o tema escolhido fosse Gênesis 41.38, a leitura base está em 1 Coríntios 2.6-16

O tema escolhido para este Pré-Congresso está em Gênesis 41.38: “Acharíamos um varão como este, em quem haja o espírito de Deus [ou dos deuses]?” Uma pequena história do Antigo Testamento que provavelmente todas as crianças desta sala sabem contar melhor do que eu. É o momento em que a sorte do jovem José, filho de Jacó, sofre uma completa mudança. Após ser rejeitado pelos seus 11 irmãos, ser levado como escravo ao Egito, ser acusado e condenado à prisão por um crime do qual era inocente; ele é chamado à corte para interpretar um sonho do Faraó bem estranho sobre vacas e espigas de milho. Nenhum dos magos e sacerdotes a serviço do governante havia sido capaz de discernir o significado, no entanto José consegue desvendar o mistério. O surpreso Faraó reune a pouca teologia distorcida que possui e faz a declaração já mencionada. A arte de interpretar sonhos e com isso predizer o futuro era para ele uma ação diretamente divina e em muitos casos essa era a própria justificativa para a adoração dos deuses. Servi-los era uma forma de atrair bençãos, favorecimento e segurança quanto ao futuro pessoal e nacional. Aqueles que eram capazes de anunciar as revelações divinas deviam ser exaltados e honrados tanto quanto os próprios deuses, já que compartilhavam dos seus pensamentos. E foi dessa maneira que José foi elevado ao posto de governador do Egito abaixo apenas do Faraó.    

Esta história sempre nos chama bastante atenção, porque nos mostra como Deus, que é soberano e onisciente, revela os seus planos e direciona os passos a serem dados. Na vida do Faraó e de todos os egípcios havia um plano que agora fora revelado. Na vida de José também havia um plano divino específico que o próprio Deus já o revelara anos antes através de sonhos. E através de sua revelação Deus também providenciava orientação sobre como reagir, como se preparar e o que esperar. Obviamente, o Faraó de certa forma afirma que para alguém ter a direção de Deus e saber interpretar o que está por vir, essa pessoa deve ser espiritual.      

Não há dúvidas de que José era um jovem sobre quem o Espírito de Deus repousava. Não há dúvidas também que a sua capacidade de interpretar o sonho e saber o que iria acontecer nos próximos 14 anos lhe foi dada diretamente por Deus – visto que ele mesmo assim o reconhece em Gn 41.16. No entanto, é possível que o Faraó não tivesse consciencia do que estava dizendo. Ele provavelmente tirou as conclusões corretas a partir de uma análise equivocada, mudando inclusive o nome de José para Zafenate Paneía [o revelador de segredos]. Pois, afinal, o que torna ou faz de alguém uma pessoa espiritual? Ter visões? Interpretar sonhos? Uma pessoa que ora mais do que outra é necessariamente mais espiritual? Quem jejua mais? Quem possui mais dons?

“Para muitos cristãos”, principalmente para nós jovens, “direção é um problema crônico. Não que a gente tenha dúvidas de que direção divina seja um fato, mas justamente porque temos certeza de que é” – afirma J. I. Packer em seu famoso livro Conhecendo Deus (1973). Nós sabemos que Deus pode e prometeu nos guiar. Histórias como a de José nos mostram que Ele já o fez na vida de outros crentes. Sempre conhecemos alguém que tem alguma história de como Deus o orientou de maneira clara e milagrosa, operando assim em sua vida. Nosso medo então não é que falte orientação da parte de Deus, mas que nós não sejamos espirituais o suficiente pra recebê-la ou percebê-la e discernir se de fato vem de Deus. Por este motivo, escolhi como leitura para esta noite uma segunda passagem bastante conhecida: I Coríntios 2.6-16.

Doutrina

Corinto estava basicamente no centro da cultura grega, onde filósofos e poetas valorizavam as conquistas humanas. Os atletas, esculpindo os seus corpos à perfeição, colhiam medalhas e glória. Os pensadores e oradores eram admirados por suas mentes elevadas. Os gregos amavam a sabedoria e sentiam sede de entender o universo. A uma igreja vivendo numa realidade não muito diferente da nossa época, o apóstolo Paulo escreve: “Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo que se aniquilam”(v. 6 ARC) A palavra usada por ele que foi traduzida por “perfeitos” no original grego é teleios e descreve aqueles que manifestam um caráter cristão maduro. Por isso algumas versões bíblicas trazem o verso como “falamos de sabedoria entre os que já têm maturidade” (NVI) Teleios também é a raiz da palavra telescópio, que nos auxilia a enxergar à distância, o que faz muito sentido quando percebemos que uma pessoa madura é aquela que enxerga adiante. Uma pessoa madura está sempre à frente; vivendo o hoje com a mente no amanhã através das experiencias de ontem. Ela sabe o que está vindo e se prepara mesmo que ainda esteja distante. Paulo diz que possui uma mensagem de sabedoria para os cristãos que são maduros, mas uma sabedoria diferente daquela que os gregos estavam acostumados. Diferente daquilo que o mundo chamava de sabedoria. Porque a sabedoria do mundo por não ter uma finalidade em si mesma, era auto-destrutiva. Os próprios mestres da sabedoria se aniquilavam.

“Mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistério”(v.7) Paulo afirma que a sabedoria da mensagem que ele trazia vinha de Deus, na verdade era a própria sabedoria de Deus. Mas que era secreta, misteriosa e estava escondida; “a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória” (v.7) A sabedoria de Deus já existia e Ele mesmo já possuía planos traçados para nós muito antes do mundo vir a ser. Deus, que não é como nós movido por cinrcunstâncias, jamais foi pego de surpresa. Antes mesmo das crises e problemas, mais especificamente antes do pecado se tornar parte de nossa natureza, Ele já possuia ordenanças e direção para cada um de nós através de sua infinita sabedoria. O que para mim é um pensamento consolador, porque significa que ao decidir salvar a minha vida Deus já sabia muito bem os erros que eu cometeria. Ele nunca foi iludido quanto ao que estava fazendo e por isso a Sua sabedoria só engrandece e glorifica o Seu amor. No entanto, de maneira surpreendente, Paulo diz que isso foi “para nossa glória”. Ou seja, Deus possui planos escondidos e fundamentados em sua sabedoria desde a eternidade passada cuja finalidade é nos trazer glória. Bom, na vida de José isso foi bem evidente já que ele se tornou governador do Egito. Na vida de diversos cristãos também vemos histórias bem-sucedidas. Homens e mulheres de Deus que ganharam destaque público ou prosperidade financeira. De fato, isso se encaixaria de descrição de “glória” que Paulo traz nessa passagem. Mas seria muito superficial interpretarmos dessa maneira, visto que muito mais abundantes são os exemplos de homens e mulheres tementes a Deus que morreram no anonimato ou em condições de sofrimento e dor. Sendo assim, que glória é essa de que Paulo fala? Não é a primeira vez que ele traz o tema “glorificação dos crentes” e nós devemos entender que para Paulo isso se refere a um processo que já está ocorrendo, mas que ao mesmo tempo ainda vai acontecer. O plano/sabedoria oculta de Deus tem por objetivo trazer uma transformação completa de nossas vidas  a começar aqui através da regeneração e a culminar no futuro com a ressurreição de nossos corpos incorruptíveis. O “para a nossa glória” na verdade remete a carregarmos a glória do próprio Deus e refletirmos a sua luz. Sim, e nenhum dos líderes deste mundo sendo capaz de entender a sabedoria de Deus acabaram por crucificar aquele que é “o Senhor da glória” (v.8)  

“Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e a não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (v.9) Paulo está provavelmente citando Isaías 64.4, exceto que faz uma pequena modificação. Ao invés de dizer “aos que esperam em Deus” ele diz “aos que amam a Deus”. Deixando subentendido que os que esperam em Deus são na verdade aqueles que O amam. Este é um daqueles versículos que todos gostam de recitar porque enfatiza o quanto somos ignorantes das bençãos que Deus tem preparado para nós. Alguns pastores até gostam de ler este verso em funerais reinforçando que não conseguimos nem imaginar como será no céu. Mas a verdade é que ao lermos o contexto, não há indicação de que Paulo esteja exclusivamente falando do céu. Não há nada que diga que se trata do futuro, mas simplesmente que Deus possuía um plano oculto preparado para a glória daqueles que nEle esperam e, portanto, O amam. E este plano ou esta sabedoria de Deus estava acima de qualquer análise ou especulação humana. Este versículo de fato deixa claro o contraste entre a sabedoria divina e a sabedoria humana. Enquanto para qualquer cientista contemporâneo o conhecimento só vem através do uso dos sentidos e da experimentação (ver, ouvir, entender e/ou racionalizar), nenhum destes é suficiente para explorar o que Deus possui em oculto. Galileu provavelmente ficaria chateado com essa falha, ou melhor, incapacidade do método científico.            

O principal motivo da má interpretação do verso 9 é que esquecemos de ler o verso 10: “mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” Embora fosse impossível aos nossos sentidos (olhos, ouvidos e mente) advinhar ou sequer compreender o plano de Deus, Ele mesmo se encarregou de revelá-lo. A palavra revelar que também vem do grego significa retirar o véu que esconde algo. Quando desejamos conhecer alguém ou fazer amizade, não basta nos aproximarmos desta pessoa, mas ela mesma deve se abrir e se deixar conhecer. Se a todos os homens era impossível conhecer os planos e a sabedoria que desde a eternidade estavam em Deus, era necessário que ele mesmo revelasse os seus pensamentos. A iniciativa deveria e só poderia partir dEle. Deus não permaneceu recluso ou obscuro. O cristianismo não é uma religião ocultista baseada em  mistérios e planos desconhecidos. Sim, há muito sobre Deus que desconhecemos. Sendo ele infinito é claro que é impossível que o conheçamos por inteiro. Mas o que Paulo afirma é que através do Espírito nós temos acesso a todos os mistérios da sebdoria e dos planos de Deus. Somente através do Espírito.

“Porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” Outras traduções usam o verbo buscar ou examinar. Hoje em dia qualquer pessoa que tenha acesso a um computador sabe usar uma ferramenta de busca. Basta digitar 2 ou 3 palavras e você tem acesso a praticamente qualquer informação que desejar. O Espírito de Deus desempenha este papel de buscar e trazer o conhecimento de Deus. Em junho do ano passado eu estava fazendo uma viagem para São Francisco na California e eu não conhecia muito bem as leis americanas de embarque aéreo. Assim que passei na primeira fiscalização fui parado pelos seguranças e eles me pediram permissão para abrir a minha mochila. Obviamente eu autorizei, embora já me sentisse constrangido porque de certa forma eles estariam penetrando a minha vida pessoal. Na minha mochila eu carregava meus documentos e meus objetos pessoais e fui obrigado a vê-los retirando item por item e expor a minha vida. O problema todo era um vidro de perfume, porque eles não permitiam qualquer forma de líquido acima de 100 mL. E o que Paulo está dizendo é que o Espírito de Deus é o único que tem a Sua autorização de penetrar nas Suas próprias profundezas e revelar os Seus desígnios, Sua identidade.    

“Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” (v.11) A Nova Versão Internacional traz “pensamentos” ao invés de “coisas”. De fato, olhe para o irmão ou irmã que se encontra ao seu lado. Você consegue me dizer o que ele(a) está pensando neste exato segundo? Eu duvido muito. Quem sabe os nossos pensamentos senão o nosso próprio espírito? E o mesmo é válido para Deus. Se não conseguimos ler os pensamentos uns dos outros quanto mais os de Deus! Somente o Espírito de Deus conhece os pensamentos de Deus. “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer [entender, NVI] o que nos é dado gratuitamente por Deus.” (v. 12)  É provavel que Paulo tivesse em mente todos os cristãos, que possuem o Espírito de Deus, quando disse isso. No entanto, em uma primeira análise ele se referia a si mesmo e aos demais apóstolos. Ou seja, recapitulando o processo, vemos que os pensamentos mais profundos de Deus foram revelados e feitos conhecidos gratuitamente (i.e. por sua graça) aos seus apóstolos que receberam e entenderam os mistérios divinos através do Espírito de Deus.

No entanto, o processo não termina aí. Observe o verso 13: “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” Os apóstolos não só receberam as revelações dos pensamentos de Deus, mas também através do Seu Espírito foram habilitados a ensinar, a falar e escrever! O final deste versículo 13 é de difícil tradução, mas a NVI traz como “interpretando verdades espirituais para os são espirituais” Aos apóstolos foi dada a capacidade de explicar os pensamentos de Deus àqueles que nasceram de novo e sendo seus filhos, são espirituais. A isso damos o nome de inspiração. O próprio respirar de Deus foi dado ao apóstolos para que trouxessem vida aos demais filhos de Deus. Deixados na forma escrita, temos acesso aos pensamentos de Deus.

“Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (v.14) Embora todo o processo de comunicação entre Deus e os homens esteja até então inabalado, Paulo descreve uma interrupção. Ora, se o Espírito é aquele que examina e busca os pensamentos de Deus, aquele que revela aos apóstolos e publica os seus resultados (como todo bom pesquisador científico) através de homens; nada mais óbvio que Ele mesmo seja o encarregado de aplicar as verdades de Deus aos homens. E neste ponto ocorre uma divisão. Paulo menciona que todos os homens estão divididos em duas categorias: naturais e espirituais. “O homem natural não compreende”, ou em uma melhor tradução “não aceita” aquilo que o Espírito lhe ensina. Muitos homens são formados em teologia, ou literatura e chegam a se tornar doutores na Palavra de Deus. Um dos maiores comentaristas da Carta aos Filipenses vivo atualmente nunca se converteu ao cristianismo. Sim, porque de certa forma para se ter uma melhor intepretação da mensagem bíblica talvez seja necessário conhecer a história e a cultura dos tempos bíblicos, ou as línguas originais, ou a geografia local etc. Enfim, conhecimentos meramente seculares. Mas embora compreendam e conheçam bem as Escrituras, não são capazes de aceitá-las. Ou seja, em um outro sentido eles são completamente ignorantes a respeito dos mistérios de Deus. Pelo fato de não serem nascidos do Espírito de Deus, as verdades reveladas ficam perdidas como simples loucura e coisas que não fazem sentido algum.

“Mas o que é espiritual discerne [julga, NVI] bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” (v.15) Bom, isso significa que agora que você é crente você sabe todas as coisas desde química quântica até genética? Eu acho que não. Significa que temos o poder de julgar todas as pessoas do mundo? Também acho que não. Este verso significa que através do Espírito temos acesso aos pensamentos de Deus revelados em sua palavra aos apóstolos e Ele nos dá o poder necessário para aplicar este conhecimento a todas as áreas de nossas vidas. Que todos os planos de Deus para nós podem e devem ser conhecidos através do seu Espírito porque Ele os tem revelado de forma que podemos e devemos dirigir nossas vidas de acordo com esta revelação. Significa que por causa do Espírito de Deus todos nós nos tornamos um enigma porque começamos a entender a enxergar tudo ao nosso redor de acordo com os pensamentos de Deus e ao mesmo tempo deixamos de ser compreendidos por todos os que não compartilham da vida espiritual. Significa que a pessoa verdadeiramente espiritual não é aquela que recebe mais visões, sonhos e revelações acerca do futuro (como o Faraó pensou). Mas o nosso grau de espiritualidade é dado pela maneira como pensamos e agimos frente a todos os mistérios e pensamentos de Deus já revelados! Antes eram completamente ocultos, “porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo?” (v.16); mas de sua própria vontade e partindo do seu próprio amor consciente desde a fundação do mundo, Deus quis fazer conhecer a Sua mente a cada um de nós para nossa glória! Somos capazes de discernir todas as coisas, tanto naturais quanto espirituais. Não perdemos o poder de raciocinar e adquirir conhecimento humano, antes o ampliamos de maneira sobrenatural. E embora possamos descer e aprender o que é natural, o inverso nunca é verdade. Porque quem pode penetrar tão fundo na mente de Deus a ponto de poder instruir àqueles que têm o Espírito de Deus? É como estar numa posição bem mais alta ao subirmos a montanha do conhecimento. Olhamos para baixo e podemos contemplar sob uma nova perpectiva tudo aquilo que o homem natural compreende, mas eles mesmos jamais poderiam alcançar a mesma visão que nós. Nós sabemos o que é verdade e o que não é verdade sobre Deus. “Nós temos a mente de Cristo.” (v.16) Esta afirmação tão poderosa e profunda feita pelo apóstolo Paulo é também um lindo jogo de idéias. Ao dizer que nós temos a mente de Cristo ele estava se referindo em um primeiro sentido às Escrituras que são os próprios pensamentos de Deus. Todos nós nessa sala possuimos uma bíblia, certo?  Em um segundo sentido estava afirmando que nós somos os únicos que temos o Espírito de Deus habitando em nós para fazer com que os pensamentos de Deus revelados aos homens sejam os nossos mesmos pensamentos. Como diz o velho ditado, estamos com a faca e o queijo na mão! Deus tem planos para nós. Ele nos revelou seus planos. Precisamos aprender a tomar a direção que Deus gratuitamente nos dá.

Aplicação

A esta altura você já deve estar se perguntando: “nossa, Pedro, mas porque você precisou dar esta volta toda para falar sobre os planos e a orientação de Deus? Não bastava ler os dois últimos versículos dizendo que quem é espiritual tem a mente de Cristo e discerne todas as coisas?” A resposta é: claro que não! Porque quase todos os crentes leem somente os dois últimos versículos e pensam que se trata de uma fórmula mágica. Aceitamos a Jesus num dia e no outro temos super-poderes pois somos super-espirituais e temos direção de Deus pra tudo em nossas vidas (em alguns casos, na vida alheia também!). Quando na verdade, o apóstolo deixa bem evidente que se trata de alinharmos nossos pensamentos com os pensamentos de Deus através da sua Palavra! Paulo desafia os cristãos imaturos em Corinto a crescerem enquanto aplicavam o discernimento espiritual: examinando e investigando os valores e as implicações espirituais de tudo que acontecia em suas vidas. O presente gratuitamente dado por Deus era a mente de Cristo para esta tarefa tão impossível a todos nós. E na maioria dos casos ter a mente de Cristo significa não ser compreendido pelos outros, mas mesmo assim seguir o caminho que Deus nos tem mostrado pela sua Palavra. Aprendendo a enxergar de longe o que ainda não chegou, assim como José! Maturidade.

É muito comum que mesmo os cristãos mais sinceros procurando direção de Deus o façam de modo errado. Simplesmente porque imaginamos o direcionar de Deus como uma espécie de intuição ou propulsão espiritual sem qualquer ligação com sua Palavra escrita. Nós ouvimos a palavra direção e logo pensamos nos problemas que demandam decisão de nossa parte. Por exemplo, será que eu devo me casar ou não? Me casar com esta ou com aquela pessoa? Já está na hora de ter outro filho? Devo sair da minha igreja? Devo entrar pra esta ou aquela igreja? Será que o plano de Deus é que eu more nesta cidade até morrer? Devo arrumar um emprego ou continuar estudando? Que profissão eu escolho?? Eu preciso que alguém me diga o que fazer!

Os dois problemas envolvidos nestes tipos de direcionamento são: eles não podem ser resolvidos com uma aplicação direta de um ensinamento bíblico (ou seja, nada de abrir a bíblia ao acaso e ver onde cai! Não há uma passagem específica para os nossos problemas específicos); o fator inclinação dada por Deus se torna decisivo. A idéia de escutar a voz do Espírito dentro de você e seguir esta direção se torna mais atraente. Em um livro chamado Fanatismo Religioso escrito por uma senhora pentecostal americana e publicado em 1928 conta da história de uma mulher que às vezes saía de casa calçando apenas um sapato, outras passava o dia sem se levantar da cama. Ela sempre perguntava ao Senhor se Ele queria que ela fizesse algo, e só faria se ouvisse “a voz” dentro dela dizendo que sim. É claro que isto soa ridículo aos nossos ouvidos, mas quando menos percebemos estamos fazendo o mesmo com as decisões das nossas vidas. Sendo tão imaturos quanto esta mulher. Às vezes oramos e pedimos uma direção que na verdade Deus já nos tem dado através de sua Palavra, mas nós não conseguimos ver. Porque já decidimos que não vamos encontrar nada lá. Não espere por exemplo que seja direção de Deus você se casar com um descrente ou se juntar com quem quer que seja sem o compromisso do casamento. Mesmo que não haja uma resposta precisa para seu problema de direção, não significa que Deus não tenha limites e orientações gerais que possam restringir as suas opções de escolha!   

Quais são os laços que nos embaraçam? Primeiro, nós não queremos pensar. Deus nos fez seres pensantes e Ele guia a nossa mente primordialmente quando decidimos pensar diante da sua presença!  Segundo, nós não queremos pensar adiante. Usar o telescópio da maturidade! Pesar as consequências de cada alternativa para as nossas ações a longo prazo. Terceiro, nós não queremos pedir conselhos. A bíblia é bem clara quanto isso: “O caminho do tolo sempre lhe parece correto, mas o homem sábio escuta conselhos”! (Pv. 12.15) Sempre há pessoas que conhecem a bíblia, a natureza humana e os nossos próprios dons e limitações melhores do que nós! Nada além de coisas boas virão a nós se cuidadosamente considerarmos o que eles têm a dizer. Quarto, não queremos suspeitar de nós mesmos. Sentimentos de exaltação, escapismo, auto-indulgência e engrandecimento devem ser detectados e removidos, não confundidos como direção espiritual. É muito comum, por exemplo, ao estarmos apaixonados termos a consciencia silenciada e o pensamento crítico inibido pela alegria e o sentimento de bem-estar. Quantas vezes já ouvimos pessoas dizerem “eu senti a direção de Deus para me casar com fulano(a)”? Sempre devemos questionar o porquê dos nossos sentimentos! Quinto, não conseguimos descontar nosso magnestismo pessoal. “Esquecemos” do poder que temos de influenciar os outros a concordarem com nossas ações. Pedimos ajuda a(o) melhor amiga(o) sem lembrar que a nossa auto-dramatização pode dominar as suas mentes em nosso favor. Só queremos uma desculpa e um apoio moral para a decisão que já tomamos. Não estamos buscando direcionamento de verdade! Ou até mesmo quando estamos conscientes dessa nossa capacidade e tentamos evitá-la, não conseguimos impedir que os outros continuem nos tratando como anjos ou profetas de Deus. Cegos guiando outros cegos. “Examinai tudo. Retende o que é bom.” (1 Ts 5.21) Sexto e último embaraço, não queremos esperar em Deus. “Deus nunca ilumina mais o futuro do que nós precisamos para agir no presente” (J. I. Packer, 1973) Ele nos direciona um passo de cada vez. “Corramos com paciência” (Hb 12.1). Na dúvida continue esperando em Deus. Quando uma ação for necessária, uma luz virá!     

A resposta de Deus nem sempre é fácil. Estar na direção certa não significa que o caminho será livre de problemas. Na verdade a presença de problemas e complicações no caminho da decisão já tomada é um sinal para paramos e refletirmos. Pode ser que estamos no caminho errado, mas pode ser que não! Muitas são as aflições do justos. Nas duas vezes que os discípulos enfrentaram uma tempestade no mar da Galiléia foi porque o próprio Jesus os tinha ordenado irem para lá. Paulo em outra passagem diz que foi direcionado pelo Espírito a ir pra Jerusalém sabendo que prisões e aflições o aguardavam! Já dissemos que os homens naturais não entenderão nossas ações e provavelmente vamos sofrer o abandono e a rejeição. Tal como o próprio Cristo, Senhor da Glória! Você tem a mente de Cristo! Aprenda a usar as armas que Deus lhe tem dado tanto nas suas mãos (bíblia) quanto dentro de si mesmo.

Conclusão

É claro que em algum momento você vai tomar a direção errada. Todos nós fazemos isto. E nós podemos simplesmente sentar e chorar pelas más decisões vendo nossas vidas se afundarem. Mas não é isto que Deus deseja pra nós. Graças a Deus, nem todo erro é irreversível. Se houver conserto, você já sabe o que tem de fazer. Dê a volta e comece tudo de novo na direção certa. O Senhor é o Deus que restaura os nossos caminhos! Mas se por um outro lado a direção tomada é irreversível e o erro cometido não pode ser revogado, também tenha certeza de que o Senhor é um Deus que pega os nossos erros e tolices e consegue encaixá-los nos seus planos para nós, trazendo bem a partir do mal. “Todas as coisas cooperam pra o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados pelo seu decreto” (Rm 8.28) Não é com a sua segurança que você deve se preocupar, pois disso nós já temos a garantia. Nossa preocupação deve ser trazer glória ao nome de Deus através das nossas escolhas. Deus não nos deixará arruinar nossas próprias almas. Mas Ele quer achar um varão como José, em quem haja o Seu Espírito e a mente de Cristo.

Oremos como Davi no Salmo 136:

“Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e me levanto: de longe percebes os meus pensamentos. Cercas o meu andar e o meu deitar. Conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tu já a conheces inteiramente! Para onde irei eu do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás. Se tomar as asas da alva e se habitar no fundo do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá! Sonda-me, ó Deus, conhece o meu coração. Prova-me os pensamentos. Conhece as minhas inquietações. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”

Em nome do Nosso Eterno Senhor e Salvador Jesus Cristo,
Amém.

Um comentário:

  1. Sei que foi de relevante importância para a juventude que teve o privilégio de ter uma pregação dessa natureza. Que Deus continue lhe abençoando...

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